Pesquisadoras tratam dos desafios da carreira para mulheres no país
Agência Brasil entrevistou cientistas que mapearam genoma do SARS-CoV
Foto: Arquivo
A paixão pela ciência uniu o destino das pesquisadoras Ester Sabino, 63 anos, e Jaqueline Goes, de 33 anos. De gerações distintas, elas participaram do primeiro sequenciamento genético do novo coronavírus no Brasil. O mapeamento genético do vírus realizado em apenas 48 horas – enquanto a média mundial é de cerca de 15 dias –, gerou uma repercussão inesperada na equipe de especialistas.
Em entrevistas exclusivas à Agência Brasil, Ester e Jaqueline falaram sobre as perspectivas e valorização de suas carreiras e da ciência no país, no Dia Internacional da Mulher. Ampliar a divulgação da ciência no país e garantir investimentos para a produção científica estão entre os principais pontos defendidos pelas duas pesquisadoras.
Jaqueline é biomédica e coordenadora da Rede Colaborativa de Sequenciamento Genético no Brasil (Rede SEQV Br). Ela defende regulamentar a profissão no país e lembra que as bolsas de pesquisa ficaram quase dez anos sem reajuste. Em fevereiro o governo anunciou aumento de 25% a 200% nos valores pagos.
Além da regulamentação profissional, Jaqueline defende a modernização da legislação brasileira para assegurar, por exemplo, mais agilidade na importação de insumos para a pesquisa.
A imunologista e professora do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Ester Sabino também defende o aporte de mais verbas para atividades de pesquisa e diz que na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro houve uma “guerra contra ciência”.
Segundo Ester Sabino, gerações inteiras de pesquisadores se perdem, já que muitos talentos vão para o exterior em virtude da falta de investimento e perspectivas na área.
Carreira
Com mais de 30 anos desenvolvendo pesquisa no país, Ester Sabino lembra das dificuldades do início da carreira, no final da década de 1970.
Segundo ela, na década de 1950 a faculdade de medicina no Brasil era considerada uma das dez melhores do mundo, mas sem investimentos, cientistas brasileiros começaram a deixar o país a partir da década de 60.
O trabalho com sequenciamento genômico começou nos anos 80, com o então recém-descoberto vírus HIV transmissor da Aids. De lá, a pesquisadora passou a atuar com doenças transmissíveis pelo sangue, seguindo para estudos sobre doenças tropicais, como a Doença de Chagas.
Segundo a pesquisadora, a experiência acumulada com o sequenciamento de outros vírus permitiu que a análise do DNA do SARS-CoV-2, nome científico do novo coronavírus, fosse agilizada pela equipe.
Apesar dos constantes avanços e retrocessos na produção científica brasileira, a imunologista se mantém otimista com as perspectivas para a profissão no país.
Representatividade
A repercussão do trabalho com o sequenciamento genômico do SARS-CoV-2 chegou a assustar Jaqueline. No entanto, a opção da pesquisadora foi de encarar o momento como oportunidade de ampliar o conhecimento científico para a população.
Como resultado do trabalho, Jaqueline Góes foi uma das cientistas escolhidas pela fabricante de brinquedos Mattel para ser homenageada com a boneca Barbie. Ela foi a representante brasileira junto com outras cinco cientistas da Austrália, Canadá, Estados Unidos e Reino Unido.
Ela conta que, em seguida, faz uma outra releitura da proposta e começou a entender que aquilo poderia mudar paradigmas: "a presença de uma boneca negra, cientista, brasileira poderia mudar o imaginário das crianças no Brasil".
A biomédica explica que a atuação em busca de informações essenciais para a produção de medicamentos e vacinas a fez ocupar um espaço diferente do imaginava quando ingressou no curso de biomedicina pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.
Por Agência Brasil
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