Venda de dólares pelo Banco Central pode reduzir dívida bruta
Venda de reservas internacionais reduz operações compromissadas e impacta cálculo do endividamento bruto, mas trajetória da dívida continua preocupante.
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A venda de dólares realizada pelo Banco Central (BC) nas últimas semanas deve levar à redução da relação entre a dívida bruta pública e o Produto Interno Bruto (PIB). A queda no volume de reservas internacionais, que somou mais de US$ 30 bilhões no mês, contribui para a diminuição das operações compromissadas. Essas operações são usadas pelo BC para controlar a liquidez na economia e têm efeito direto no cálculo da dívida bruta. Apesar disso, o comportamento das contas públicas permanece desafiador, com projeções indicando alta da dívida nos próximos anos, impulsionada pelo aumento das despesas obrigatórias e pelos juros elevados.
Em dezembro, o BC vendeu US$ 21,574 bilhões no mercado à vista e ofertou outros US$ 11 bilhões em leilões de linha, operações que preveem recompra futura da moeda. Essas ações ocorreram em meio a altas saídas de dólares, como o envio de lucros e dividendos por empresas multinacionais. A redução das reservas resgata operações compromissadas, afetando o cálculo da dívida bruta. Apesar disso, o dólar se mantém acima de R$ 6 devido às incertezas fiscais e ao cenário externo, que continua desfavorável para economias emergentes. A média da moeda americana em dezembro foi de R$ 6,0968, encerrando o ano a R$ 6,1797, com alta de 27% em 2024.
O indicador de outubro foi ajustado de 78,6% para 77,8% do PIB, após a revisão do PIB nominal pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base nos dados do terceiro trimestre de 2023. A dívida de novembro ficou em 77,7% do PIB.
A dívida bruta é um dos principais indicadores de solvência de um país e segue preocupando analistas pela trajetória de alta. O endividamento era de 71,7% do PIB em 2022, alcançou 77,7% em novembro de 2024 e pode atingir de 84% a 86% do PIB em 2026. Com a revisão do PIB nominal e a redução das reservas, economistas podem ajustar levemente as projeções para os próximos anos, mas o crescimento da dívida deverá continuar.
Especialistas alertam que a trajetória da dívida só será estabilizada com a redução do crescimento das despesas obrigatórias. Sem isso, não há como gerar superávits primários necessários para conter o endividamento em relação ao PIB. Além disso, a manutenção dos juros elevados aumenta os custos financeiros do setor público. A venda de dólares, por sua vez, não é uma estratégia para reduzir a dívida, mas um reflexo da redução das reservas, com o BC atuando para corrigir disfunções no mercado cambial, como as observadas em dezembro.
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